terça-feira, 3 de abril de 2007

Daqui da varanda


Barcelona, Julho de 2006

É um terceiro andar modesto mas nobre, na forma como se empoleira para a cidade e olha o mar. Esqueço os quartos e a sala, o meu espaço preferido é este, a varanda, onde me sinto oferecido de bandeja à manhã fria a iluminada que há pouco se levantou ali atrás do Mediterrânico. Parece que a posso tocar, a água, quero tomar aqui todos os pequenos-almoços da minha vida, forçar os meus olhos ao choque de luz que me desperta e faz querer viver cada segundo deste dia, que se calhar nunca mais se repete.
Há varandas com Sol em todo o lado mas aqui tenho esta sensação feliz… sinto mesmo que faço parte do Mundo; ou que o Mundo quer fazer parte de mim. Levo os olhos do horizonte até Montjuic, salto os dois picos da Sagrada Família e percebo o buraco da Praça da Catalunha. Daqui de cima até entendo como tudo se fecha lá em baixo na cidade velha.
Mas não chega. Desço as escadas e a colina, faço do Parque Güell mais um breve miradouro e lanço-me finalmente em Barcelona na esperança de descobrir tudo. Como se fosse possível. Fujo às ruas novas traçadas a regra e esquadro e é na confusão do velhinho Born que me sinto alegremente desorientado. Aqui nada se procura porque mais cedo ou mais tarde tudo se encontra. Até eu me encontrei.

1 comentário:

Anónimo disse...

Porque é preciso nos perdermos para por vezes nos reencontarmos, mergulha sempre na confusão em que o modernismo se junta com o demodé sem choques e sem retracções. Também a vida é uma encruzilhada. Calcorreia as suas estradas, mergulha nos seus mares, sempre de mente aberta e coração escancarado.