Todo o tempo do mundo, o infinito a olhar um tecto primeiro opaco mas, bem visto, um desfilar imenso de projectos, desejos, ambições. Só assim se pode combater o relógio calão cravado na parede, a converter os sonhos em alimento da própria existência, a fazê-los desfilar como se acelerassem a cura ou o resgate desta prisão.
A noite cai. A luz que sobra de Lisboa atravessa as grades da janela e desenha-as na parede do outro lado. A jaula está agora completa, mais fechada. Nesta hora escura e de solidão, só mesmo o que surge no tecto permite a chegada tranquila do sono, até adormecer e percorrer o caminho mais curto até à manhã.
A noite cai. A luz que sobra de Lisboa atravessa as grades da janela e desenha-as na parede do outro lado. A jaula está agora completa, mais fechada. Nesta hora escura e de solidão, só mesmo o que surge no tecto permite a chegada tranquila do sono, até adormecer e percorrer o caminho mais curto até à manhã.
Oxalá dormisse mais. Ao início do dia, num quarto de hospital, já não há nada para fazer. António conta as histórias de como carregou ferro e cimento, ergueu prédios e os filhos; Alfredo fala pouco e gasta as energias a telefonar a alguém; e Alcino não abre a boca, apenas desce a mão pesada e lenta entre a testa e a face, como se aquilo fosse uma forma de suspiro. Não pára de suspirar todo o dia.