Cairo, Agosto de 2007
Enquanto a madrugada começa e a Lua já vai alta, prata com toque dourado, as famílias estacionam os carros nas pontes largas que saltam o rio, estendem-se em círculos ao longo da berma e vão molhando o pão “aish” no molho de amendoim. Sentam-se no miradouro improvisado e assim ficam um bom par de horas, porque finalmente é de noite e querem sentir a primeira brisa do dia, o leve sopro refrescado por este Nilo que lhes deu tudo, até o pretexto para a reunião. Come-se, fuma-se, fuma-se muito mas também se fala, está-se, é-se, depois de mais um Sol-a-Sol infernal, caótico e quente neste Cairo de Agosto capaz de colar qualquer pedaço de tecido ao corpo – o contrário não seria normal. É a cidade gigantesca dos prédios inacabados, do trânsito insuportável, dos miúdos que queimam tabaco agachados junto aos montes de entulho, dos velhos de face vincada e das crianças que descem à margem por um braçado de verduras; é a cidade dos afluentes/esgotos a céu aberto, onde se depositam os cadáveres dos burros, ou dos clubes ricos onde orquestras gigantescas embalam, para uma dezena de endinheirados, a dança de jovens tão belas quanto misteriosas – serpenteiam braços e tronco enrolando-se sobre si próprias mas libertam os cabelos negros, lisos, irrepreensíveis, como se prometessem uma explosão que nunca se dá.
7 comentários:
As viagens valem por páginas interias na história da nossa vida. É o supremo acto do conhecimento pela descoberta. É existir longe da existência de todos os dias. É viver um pouco de outras vidas. É ver crescer a alma. As viagens completam-nos, acrescentam-nos!
Ao ler-te, hoje, consegui viajar um bocadinho. Mais uma vez, parabéns.
Depois de lêr fiquei cheio de calor; ao meu nariz veio a memória dos cheiros das sanzalas de Angola, e só faltou sentir o cheira da terra vermalha levada pelas enxurradas das chuvas sazonais, Tens pontuação máxima
padre alexandre, o seu comentário é, no mínimo, enigmático.
quanto à pontuação, concordo em absoluto.
Ena pá! Bolas!?
Comentário básico eu sei, mas sentido...
Bolas!!Bolas!!! Bolas...ficaste pela "Brisa do NILO"....preciso das tuas palavras, que são sempre bonitas de se ouvir e de grande consolo.....Onde é que se ouve o som das ondas, o bater na rocha e o regresso ao mesmo mar......onde está????.........
Procurando por outros, já li este texto mil-e-uma-noites de vezes. A brisa afasta-se do Nilo e transforma-se em vento atlântico... e depois disso?
parabéns a você
nesta data querida
1 ano sem escrever
a pôr a malta perdida
no excuses, ó surfer!!!
eheheh
bjo
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