terça-feira, 17 de abril de 2007

A cama 13

É sempre o mesmo quarto e é sempre a mesma cama, a cama 13, aquela onde te deitam junto à janela. Não ligas nada a isso do 13, sei, e às vezes até penso que tens sorte, porque estás à janela, e vês o Sol e as nuvens, e o dia e a noite... sei lá, penso, nada melhor do que ver a vida lá fora para nos mantermos agarrados a ela!
Agarro-te a mão, não me olhas, não me falas, agarro-te a mão branca e fina e aperto suavemente porque quero que me sintas, que estou contigo e te quero comigo, e tu deixas-me esses dedos estendidos nos meus, porque se calhar não podes ou não queres agarrar-te a nada, nem a mim nem à vida.
Dói, a dor pisa-me cá dentro... mas o que quero eu? Tudo isto é egoísmo, como posso reclamar a tua presença, fazer-te refém para minha felicidade, prender-te a esta existência apenas tua, quando nem sei o que sentes, o que te dói, onde estás ou para onde queres ir?

terça-feira, 3 de abril de 2007

Daqui da varanda


Barcelona, Julho de 2006

É um terceiro andar modesto mas nobre, na forma como se empoleira para a cidade e olha o mar. Esqueço os quartos e a sala, o meu espaço preferido é este, a varanda, onde me sinto oferecido de bandeja à manhã fria a iluminada que há pouco se levantou ali atrás do Mediterrânico. Parece que a posso tocar, a água, quero tomar aqui todos os pequenos-almoços da minha vida, forçar os meus olhos ao choque de luz que me desperta e faz querer viver cada segundo deste dia, que se calhar nunca mais se repete.
Há varandas com Sol em todo o lado mas aqui tenho esta sensação feliz… sinto mesmo que faço parte do Mundo; ou que o Mundo quer fazer parte de mim. Levo os olhos do horizonte até Montjuic, salto os dois picos da Sagrada Família e percebo o buraco da Praça da Catalunha. Daqui de cima até entendo como tudo se fecha lá em baixo na cidade velha.
Mas não chega. Desço as escadas e a colina, faço do Parque Güell mais um breve miradouro e lanço-me finalmente em Barcelona na esperança de descobrir tudo. Como se fosse possível. Fujo às ruas novas traçadas a regra e esquadro e é na confusão do velhinho Born que me sinto alegremente desorientado. Aqui nada se procura porque mais cedo ou mais tarde tudo se encontra. Até eu me encontrei.