segunda-feira, 20 de agosto de 2007

A brisa do Nilo

Cairo, Agosto de 2007
Enquanto a madrugada começa e a Lua já vai alta, prata com toque dourado, as famílias estacionam os carros nas pontes largas que saltam o rio, estendem-se em círculos ao longo da berma e vão molhando o pão “aish” no molho de amendoim. Sentam-se no miradouro improvisado e assim ficam um bom par de horas, porque finalmente é de noite e querem sentir a primeira brisa do dia, o leve sopro refrescado por este Nilo que lhes deu tudo, até o pretexto para a reunião. Come-se, fuma-se, fuma-se muito mas também se fala, está-se, é-se, depois de mais um Sol-a-Sol infernal, caótico e quente neste Cairo de Agosto capaz de colar qualquer pedaço de tecido ao corpo – o contrário não seria normal. É a cidade gigantesca dos prédios inacabados, do trânsito insuportável, dos miúdos que queimam tabaco agachados junto aos montes de entulho, dos velhos de face vincada e das crianças que descem à margem por um braçado de verduras; é a cidade dos afluentes/esgotos a céu aberto, onde se depositam os cadáveres dos burros, ou dos clubes ricos onde orquestras gigantescas embalam, para uma dezena de endinheirados, a dança de jovens tão belas quanto misteriosas – serpenteiam braços e tronco enrolando-se sobre si próprias mas libertam os cabelos negros, lisos, irrepreensíveis, como se prometessem uma explosão que nunca se dá.

7 comentários:

Anónimo disse...

As viagens valem por páginas interias na história da nossa vida. É o supremo acto do conhecimento pela descoberta. É existir longe da existência de todos os dias. É viver um pouco de outras vidas. É ver crescer a alma. As viagens completam-nos, acrescentam-nos!

Ao ler-te, hoje, consegui viajar um bocadinho. Mais uma vez, parabéns.

padre Alexandre disse...

Depois de lêr fiquei cheio de calor; ao meu nariz veio a memória dos cheiros das sanzalas de Angola, e só faltou sentir o cheira da terra vermalha levada pelas enxurradas das chuvas sazonais, Tens pontuação máxima

Anónimo disse...

padre alexandre, o seu comentário é, no mínimo, enigmático.
quanto à pontuação, concordo em absoluto.

Anónimo disse...

Ena pá! Bolas!?
Comentário básico eu sei, mas sentido...

Anónimo disse...

Bolas!!Bolas!!! Bolas...ficaste pela "Brisa do NILO"....preciso das tuas palavras, que são sempre bonitas de se ouvir e de grande consolo.....Onde é que se ouve o som das ondas, o bater na rocha e o regresso ao mesmo mar......onde está????.........

anita disse...

Procurando por outros, já li este texto mil-e-uma-noites de vezes. A brisa afasta-se do Nilo e transforma-se em vento atlântico... e depois disso?

anita disse...

parabéns a você
nesta data querida
1 ano sem escrever
a pôr a malta perdida

no excuses, ó surfer!!!

eheheh

bjo