quarta-feira, 9 de maio de 2007

O "fintabolista"

Machava, Maputo, Maio de 2006

O velho parece a parede, triste, negro e parado. Não larga a posição, pernas eternamente cruzadas, pregado perante os deuses que lhe passam à frente. Deve achar que são mesmo deuses, porque não ousa sequer olhá-los nos olhos apesar de os ter ali mesmo, a dois ou três metros. Ao contrário de outros, não delira e todo ele é devoção e silêncio, a forma mais nobre de admiração. Os anos atravessaram-lhe o corpo e deve estar agora a realizar um sonho de mufana, quando era apenas um fintabolista e repetia no pó da terra o que o vizinho da Mafalala andava a fazer pelo Mundo. Mas todo ele é devoção, silêncio, a forma mais nobre de admiração.

Ninguém pode imaginar a pequenez da minha cidadezinha. Lá, porém, há gente que me dá os bons dias (in Mia Couto, Contos do Nascer da Terra)

3 comentários:

Anónimo disse...

e como é difícil ser nobremente silencioso.

gostei!

marisa

Anónimo disse...

boa notes ! :), tá bão?

Anónimo disse...

Como uma vez escreveu António Lobo Antunes: demasiado cheio de palavras para conseguir falar!
Já mais de uma vez disse a uma pessoa que adoro que observá-la em silêncio é das experiências mais maravilhosas. O um olhar pode dizer tanta coisa...